Os artistas utilizam diversos recursos gráficos nesse gênero textual para trazer o leitor para “dentro” da história contada. Através de desenhos e textos em sequência, normalmente na horizontal, surge a HQ (História em Quadrinhos) que é uma forma de arte que conjuga texto e imagens com o intuito de narrar histórias dos mais diversos gêneros e estilos. São publicadas em sua maioria no formato de revistas, livros ou em tiras de jornais.

Além da literatura, é necessário analisar a expressão artística que existe nas Histórias em Quadrinhos, principalmente quando aliada a obras de artes, desenhos, pinturas ou arquitetura. Outro fator interessante a ser levado em consideração é a questão da pluralidade estética das HQs, já que a mesma história – ou uma mesma série de histórias – podem ser contadas de formas variadas a depender do roteirista e, claro, do ilustrador contratado para o trabalho. Assim, o artista é capaz de imprimir seu estilo próprio a personagens já estabelecidos, resinificando seu universo sem fazê-los perder a essência. A publicação de histórias em quadrinhos no Brasil começou no início do século XX e de lá para cá muitos artistas surgiram e muitas histórias já foram criadas.

Felipe Folgosi é um multiartista que já passou pelos mais variados cenários de novela e cinema. Autor de histórias em quadrinhos impressionantes, confira a relação de importância entre arquitetura e desenho quando o assunto é cartoon!

Quando você começou a produzir suas Histórias em Quadrinhos?

No ano de 2014 comecei a produzir histórias em quadrinhos adultos, adaptados de roteiros de cinema que escrevi, e encontrei nessa mídia a liberdade de poder citar projetos arquitetônicos que ajudam a compor o ambiente da história, sem ter que me preocupar com as dificuldades que encontraria para filmar nos mesmos lugares. Por exemplo, em “Aurora”, uma sequência acontece na Ópera de Boston, que certamente iria exigir uma série de autorizações da prefeitura, conciliar uma data dentro do calendário de programação e provavelmente uma taxa alta de locação entre outras coisas, enquanto para contar a mesma história em forma de HQ só necessito de artistas talentosos.

De que forma a arquitetura é incorporada nos seus trabalhos e como seus personagens são inseridos no enredo?

Apesar de leigo, gosto bastante de arquitetura e procuro incluir nas Histórias em Quadrinhos algumas obras icônicas, além de acrescentar esteticamente, trazem um signo a mais na composição de um personagem. Em “Chaos”, a personagem Arja mora em Reykjavik na Islândia. Em sua cena de apresentação, coloquei ela pedalando em frente à Catedral Luterana Hallgrímskirkja, que talvez seja a construção mais conhecida da cidade. Outros projetos interessantes citados no livro são o Hotel Interalpen Tirol, na Áustria, e o novo Centro de Processamento de Dados, em Utha, nos Estados Unidos.

Seja um personagem que mora em um casebre de madeira como na História em Quadrinhos “Comunhão”, ou um que mora em uma mansão inspirada no Frank Lloyd Wright, como em “Knock Me Out”, sempre pesquiso as referências e crio um banco de imagens para os artistas se basearem. Na minha mais nova história, “Omega”, que fecha a trilogia do Aurora e Chaos, cito o Château Des Amerois, uma construção neogótica na Bélgica apelidada de “Mãe da Escuridão”, pelos rumores de abrigar rituais macabros da nobreza. Por isso se tornou a escolha perfeita para ser a morada do vilão da saga, “Mastemah Shedim”.

Folgosi finaliza, “mesmo que o leitor não identifique imediatamente uma construção, acredito que no mínimo a imagem passará a fazer parte de seu repertório visual, e vejo o quadrinho como uma excelente forma de disseminar esse conteúdo”.

Não resta dúvidas de que as histórias em quadrinho apresentam manifestações artísticas com linguagens próprias e únicas, capazes de provocar em seu público reflexões e sensações diversas sendo o objetivo de qualquer obra de arte.